sábado, 24 de dezembro de 2011

Mundão...

Passei por uma fase meio esquisita, cheia de incertezas, com o coraçãozinho em frangalhos...Na verdade, a fase ainda não passou, mas creio que esteja no final. O fato é que, neste estado de espírito, fica um pouco mais difícil enxergar beleza nas coisas do cotidiano. Pena...Porque o mundo nos apresenta diariamente pequenos espetáculos. Quisera ter olhos de vê-los sempre.
Outro dia, saí de casa para trabalhar e, ainda que estivesse bastante “para baixo”, olhei para o céu e percebi o quanto ele estava deslumbrante! Um azul lindo, limpo, um sol brilhando...Minha alma, naquele instante, já quis se encher de luz. Respirei fundo e caminhei rumo ao metrô. Ao descer as escadarias, uma senhora de uns sessenta anos, muito bonita, vaidosa e bem arrumada, veio de encontro a mim, como se fosse uma velha conhecida. Estava agitada, mas meio sorridente. Me disse: “minha querida, cuidado com a escada do metrô! Eu quase fiquei sem roupa agora”, e me mostrou a barra de seu vestido, que era longo, toda rasgada, pois um pedacinho havia enroscado nas escadas rolantes. Como eu também estava de vestido longo, ela, muito gentilmente, quis me alertar para que o mesmo não acontecesse a mim. Apenas o aviso já bastaria para justificar a gentileza. Mas ela fez mais. Não foi apenas um aviso. Era como se fôssemos velhas amigas, ela pegou minhas mãos, falou tudo olhando nos meus olhos e, ao ir embora, estava sorridente e desejando que eu tivesse um ótimo dia. Que graça...
Continuei caminhando, mas agora mais viva, lembrando da gentileza e delicadeza daquela desconhecida, tão amiga. Ao chegar à estação, percebi que havia, perto de uma parede de vidro, uma outra velha conhecida e amiga minha de longa data: a mariposa. Não sei exatamente a razão, mas tenho uma forte identificação com este insetozinho...A parede ocupava metade da altura do local da estação onde eu estava e a outra metade era livre, sem paredes de cimento ou de vidro. E a pequena estava na parte baixa, na qual havia vidro. Ela estava querendo sair da estação, se ver livre daquele lugar. Mas era através do vidro que ela tentava passar. Se debatia, estava sofrendo, provavelmente ficando cada vez mais fraca. Chegava a subir e se aproximar do vão que lhe daria acesso à liberdade...Mas sucumbia, fraquejava, sem perceber que faltava muito pouquinho para conseguir sair...Fiquei por alguns instantes ali, torcendo para minha amiguinha voar um tantinho mais alto...
Como a mariposinha, eu também precisava olhar mais pro alto...Perceber o mundo como algo muito maior que um metro quadrado de vidro, por onde eu vejo a vida passar e me sufoco sem conseguir me libertar. A vida está além, o céu não tem mesmo limites. Para sair do sufoco, basta olhar para cima e respirar fundo, redobrar as forças e seguir voando. Eu sou a mariposinha...A senhora do metrô foi meu alerta...O mundo está girando, fique alerta! Olhe nos olhos, toque, ajude ao próximo sempre que possível, se encontre no outro, sem perder-se de si...Olhe para o alto, para a frente, voe mais alto! Disso depende, inclusive, sua sobrevivência.
E hoje é véspera de Natal...Nesta noite, muitos estarão se felicitando, desejando paz e harmonia. Que essa força amorosa possa de fato envolver a todos no Universo, produzindo uma energia de serenidade. Porque não há nada, presente nenhum, que se equipare à sensação de um coração em paz.
Feliz Natal!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Dance até sem saber dançar!

Dançar...Além de ser uma das atividades físicas mais agradáveis que existem, aprimorar muitos de nossos sentidos (a audição, o tato, a visão...), nos proporcionar a noção de ritmo, é também, especialmente a dança a dois, um ato de extrema gentileza. Uma bela coreografia não se faz apenas com um membro do par dançando perfeitamente, ainda que, por experiência e treino, possua a melhor técnica e performance. As danças a dois são belas quando ambos estão em sintonia. Muitas vezes, um dos membros não é tão experiente, mas, tendo a sorte de conseguir um par gentil, é capaz de apresentar um espetáculo ímpar! Na dança, tudo deve ser levado em consideração...Toda nossa atenção fica centrada no resultado que a dupla consegue obter. Acontece uma mágica, uma simbiose. Nela, o olhar do parceiro, seus gestos, sua respiração...Tudo faz diferença. Muitas vezes, um dançarino amador, mas atento aos detalhes (como um olhar nos olhos de sua parceira no momento de uma condução)  torna o momento muito mais lindo que se houvesse uma dedicação somente à pura técnica. Dançar com seu par é bom demais...Unir seus ritmos, caminhar juntos, ceder, amparar, compreender as falhas do outro...Oferecer o seu braço e seu corpo num momento de queda...Perceber a dificuldade do parceiro, olhar em seus olhos e dizer, em silêncio: “estou aqui”.  Quisera que fosse assim também fora do salão de baile...
A vida nos convida a dançar! Dancemos! Com gentileza...


terça-feira, 4 de outubro de 2011

O Sol de Assis

Era assim que Dante Alighieri se referia a Francisco de Assis, o homem bom que tornou-se santo: o Sol de Assis, "uma luz que brilhou sobre o mundo". Não, não é sua santidade que me interessa...Também não é a transformação da igreja de Cristo que estava em ruínas...Meu amor por Francisco de Assis percebe seu Amor por todas as criaturas. TODAS as criaturas...A todos, chamava de irmão e irmã. Desejava Paz e Bem a quem cruzasse seu caminho. Existe oração maior que desejar ao seu semelhante uma vida cheia de PAZ e de BEM? Um homem gentil...Uma personalidade amorosa e altruísta. Há boatos de que Lenin teria dito o seguinte: houvesse no mundo ao menos dez Franciscos de Assis e a revolta bolchevique teria sido evitada...Eu digo: houvesse em nossos corações ao menos dez por cento do Amor pregado por Francisco e nosso cotidiano seria muito mais leve e agradável. Tantas desavenças, tantos desgostos, tantas mágoas seriam evitados...
Hoje é dia de São Francisco e dos animais. E quero apenas registrar aqui minha admiração e minha vontade de ser ao menos um pouquinho parecida com esse homem. E, pra quem não conhece, esta é a oração atribuída a ele, que considero um hino à gentileza:

Senhor: Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a .
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!

Ó Mestre,
fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
é morrendo, que se vive para a vida eterna!



"A Paz que vocês comunicam em seus lábios, cultivem-na primeiro em seus corações" - Francisco de Assis

terça-feira, 27 de setembro de 2011

E o palhaço o que é?

Trabalho no Brás. Caso não conheçam, é um bairro particularmente estranho. Lá encontra-se de tudo, desde o vendedor de feijão de corda a granel na saída do trem até celulares de última geração num esquema “na minha mão só paga cem conto”. Também é um lugar no qual a sua pressa é sempre mais importante que a pressa do seu próximo. Não sei para aonde e por qual razão as pessoas correm tanto. Bom, elas devem ter seus motivos, alguns fundamentais como, por exemplo, não perder o último capítulo da novela. Mas a razão da correria de cada um ignora que as palavras “com licença” e “por favor” devam ser usadas de vez em quando. Tratores humanos é no que se transformam os frequentadores do Brás. Especialmente perto das seis da tarde, ali do ladinho da estação de trem. Tenha medo!
Mas outro dia presenciei uma cena inusitada. Melhor que isso: um clima inusitado. Sim, porque a cena, de certa forma, era algo a se esperar mesmo (lembrem-se: coisas estranhas acontecem por lá): um homem muito magro, travestido toscamente de mulher, de saia curtinha e peruca rosa. Carregava um aparelho de som. Chamava o povo que passava para conhecer seu trabalho de cantor, compositor, coreógrafo e muito mais! Ao fundo, sua música tocava...Era algo parecido com forró, mas talvez o saudoso Lua lhe desse outra classificação. E ele usava um microfone. O fato é que ele estava tão animado, cantando, dançando e rebolando, dizendo ser "Fulano de Tal, aquecendo seu coração" que seria impossível passar por ele sem dar ao menos um sorriso. E assim foi: aquela figura exótica conseguiu, em pleno caos das dezoito horas no Brás, arrancar sorrisos e até algumas gargalhadas do povo cansado do trabalho.
A riqueza abstrata desta cena é mais difícil de descrever (justamente por ser abstrata)...O sorriso coletivo transformou as pessoas e as ruas. Era como se as grandes asas de um arcanjo pousassem sobre todos, tornando mais leve o fardo que cada um carregava. A luz do ambiente até pareceu ter mudado e se tornado mais clara. Não havia mais empurra-empurra, palavrões ou expressões de impaciência...O clima tornou-se leve, tão somente porque a maioria estava sorrindo.
Aquele “artista”, sem diploma e com escassos recursos, mudou o dia de muita gente. Mudou o meu. Fez despertar em cada um uma espécie de luz, de mágica, de poder escondido. Se houve  transformação de algumas pessoas em alguns poucos metros de rua, o que não aconteceria no mundo inteiro se decidíssemos todos, ao mesmo tempo, sorrir para a vida?
Corações quentinhos!!!

sábado, 3 de setembro de 2011

Só Por Hoje

Mudar o mundo? Convencer cada ser de que o melhor é agir com decência e respeito ao próximo? Não, Meu Amor...Trabalho em vão...Já dizia Wilhelm Reich em sua belíssina obra "Escuta, Zé Ninguém" que o mundo seria um lugar bem mais agradável e pacífico se cada um de nós fizesse sua parte, cuidasse com amor de sua própria vida. Já imaginou que beleza? Que harmonia? Nada de guerras, nada de competições irracionais...Respeito e consideração pela Vida. Utopia? Pode ser. Mas viver é acreditar que o hoje é um dia possível.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Tudo tão simples...

Nesses tempos sem escrever, me deparei com dois livros cujo assunto é a própria gentileza. Um deles, presente do Meu Amor, chama-se Gentileza e foi escrito por Gabriel Chalita. Bem, parece que este livro é de autoria da pessoa que me presenteou...Não sei se já mencionei aqui, mas o Meu Amor é talvez a pessoa mais gentil que eu conheço...Este espaço, em algum instante, será reservado exclusivamente a ele...Mas voltando ao livro: ele fala de coisas bem simples, como sorrir para quem  mal conhecemos, usar as “palavrinhas mágicas” (por favor, obrigada, me desculpe...), ser leve, ser tolerante...Sim, coisas bem simples...Nada extraordinário, nada que seja impossível...O outro livro chama-se A Arte da Gentileza e foi escrito por Piero Ferruci. São histórias de gentileza pelas quais o autor passou ou, de alguma forma, presenciou. Uma delícia de leitura! E o autor comenta, ainda na introdução, sobre como é simples ser gentil: “a gentileza possui muitas facetas, mas sua essência é simplíssima. Veremos que a gentileza é uma forma de fazer menos esforço. Trata-se da atitude mais econômica que existe, uma vez que nos poupa a energia que poderíamos desperdiçar com suspeitas, preocupações, ressentimentos, manipulações e defesas desnecessárias.” Releia a frase anterior. Não é que é verdade ??? Quanta energia gastamos com atitudes e pensamentos deselegantes e egoístas! Sim, é mais fácil ser gentil! Ser gentil, ser simples, é retomar o Ser que somos. Sem medos...Sem esforço. Ser gentil é...SER! Simplesmente...
Pensando no ser gentil, me vem ainda o quanto pode ser gratificante o ofício de psicoterapeuta. Todo profissional, dentro de sua própria área, pode ser extremamente bem sucedido se usar de gentileza e colocar bastante amor no que faz. Mas penso agora num profissional da Psicologia e no quanto sua doação faz toda a diferença para um tratamento ter sucesso. O psicoterapeuta dedicado traz de volta a importância do ser olhado, do ser escutado e, algumas vezes, do ser tocado. Traz para a criança interior do paciente novamente a oportunidade de sentir-se amada. Ashley Montagu, em sua obra Tocar, O Significado Humano da Pele, já falava dessa importância, de quanto a falta do contato pode ser letal. Toda minha admiração, pois, aos psicólogos e psicoterapeutas dedicados, pois colocam em prática o gentil ofício de salvar das trevas da alma muitos daqueles que estão em busca da luz interior, do autoconhecimento que salva da prisão em si mesmo.
Mas é certo que todos nós podemos, em alguma medida, praticar esse tipo de gentileza no cotidiano. Tenho uma amiga, por exemplo, que faz isso com frequência. Está sempre tendo pequenas atitudes de gentileza, como ajudar um colega em dificuldades no trabalho ou repartir seu lanche com algum amigo. É bonito de ver! Sua última peripécia foi conseguir manter contato com um senhor que mora no mesmo condomínio. Ele recentemente teve um AVC e não consegue se comunicar nem mesmo com seus familiares. Pois ela conseguiu conversar com ele, descobriu as maneiras mais fáceis de comunicar-se e já pede para que ele responda perguntas formuladas por ela (geralmente sobre o time preferido do senhor, porque  ela conseguiu descobrir qual é)  e faça contas de somar e diminuir. Ela diz que quer manter a mente do idoso trabalhando, para evitar  problemas futuros em sua mente. Alguém poderá dizer: “Ah, mas não temos tempo para isso!”. Bom, minha amiga trabalha, estuda e tem uma casa para cuidar junto com o marido. Encontrou tempo...Conseguiu, com paciência, amor, dedicação e  muita gentileza, contato com uma pessoa que perdeu a qualidade de seus sentidos.
E é isso...A vida nos dá oportunidades todos os dias de sermos pessoas melhores para o mundo, para o próximo...Nos mostra que é simples...Basta querermos enxergar essas oportunidades. E, acima de tudo, dar importância ao que é, de fato, importante.

domingo, 31 de julho de 2011

Talvez tenha deixado de lado minhas lentes.
Há dias não passo por aqui, mas realmente não tenho visto nada pela cidade que me inspire a escrever coisas belas, falem de amor e gentileza. Ao contrário. Minha cidade anda cada vez mais cheia e, consequentemente, menos gentil. Há algum tempo, tinha arrepios só de pensar em deixar São Paulo. Para mim, era aqui que a vida acontecia. Só aqui. Nessa semana, falei com uma recente amiga, moradora do interior, mas criada nessa metrópole, e ela me disse que tem arrepios só de pensar em voltar para São Paulo. Uma outra amiga, moradora do Paraná, professora em Ponta Grossa, outro dia me disse que chega em São Paulo e se sente super bem...Por breves dez minutos. Basta este tempo e ela já se lembra das razões pelas quais ela não tem a menor saudade daqui...Trânsito, mau humor, falta de educação, poluição, preços altíssimos...Estamos no inverno e quantas pessoas estão doentes...Tosses, resfriados, gripes...Pudera! Olho pro crepúsculo e ele é cinza...
Deparei com uma falta grande, em plena sexta-feira à noite...Pensei no quanto mais nada aqui me faz falta...Diante da ideia de morar em outra cidade, onde existe ar puro e menor quantidade de carros transitando pelas ruas, meus olhos brilharam...
No entanto, passeio na Avenida Paulista no domingo à tarde e vejo muitas pessoas reunidas, muitos jovens, aparentemente se divertindo. Nem dão bola pra fumaça, muito menos pros transeuntes que lhes esbarram nas calçadas. Para eles, isso pode até ser uma possibilidade de conhecer novas pessoas.
Lembro de mim há cerca de uns dez anos. Sim, minhas preocupações eram outras. Não que fosse uma alienada e nem pensasse em questões ambientais ou excesso de violência das grandes cidades...Mas estar em grupos pelos domingos à tarde na Paulista era o que havia de melhor em minha semana...
Concluo: não são somente os outros...Meu tempo agora também é outro...E talvez estivesse dentro de mim olhar o mundo com mais beleza.
Certamente, preciso limpar minhas lentes...Elas andam meio embaçadas...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Autogentileza

Já começo pelo título: será que está escrito corretamente, de acordo com as novas regras da Língua Portuguesa? Ou será que é auto gentileza? Não seria, por acaso, auto-gentileza? Ou ainda aut-o-gentileza??? Loucura...Não que eu não preze a dita norma culta ou seja contra o respeito a regras, normas e leis...Pelo contrário. Infelizmente, sem estas “rédeas”, seria impossível viver com o mínimo de respeito ao próximo, nesse mundão maluco. Mas hoje quero falar um pouco sobre auto cobrança (é assim que se escreve???)...Essa rigidez que faz brotar o medo e a sensação de impotência diante de alguns desafios que a vida nos apresenta. Sim, não precisamos ser perfeitos em tudo. Vale o clichezão: ninguém nasce sabendo! Mas por que cobramos tanto de nós mesmos a perfeição? Retifico: não precisamos ser perfeitos em nada! Temos afinidades, habilidades e vontade. O resultado? O melhor possível...Veja bem: o melhor POSSÍVEL. Por que esse mundo cobra tanto de nós o impossível? E porque sucumbimos a essa cobrança? Os sobreviventes dão a vida e conseguem ao menos respirar. Os mal preparados para esse turbilhão se rendem...A troco de que?
Sem mais delongas, pensei hoje o quanto a falta de generosidade e gentileza consigo mesmo não permite aproveitar o lado lúdico da vida. Se vou cozinhar, preciso que meu prato saia perfeito, digno de um chef de cozinha! Perfeito pra quem? O delicioso ato de cantar se transforma num martírio, pois não posso desafinar. O que vão pensar os que me ouvirem? O orgulho, então, não me deixa fazer o meu melhor, entrar na história da letra, encenar...Porque não conseguirei o perfeito. E a alegria? E a emoção, a brincadeira da coisa? Esqueça...Seria o mais importante, no fim das contas...E foi colocado de escanteio, em nome de um resultado inalcançável.
Não quero! Quanta perda de tempo! Quero o gostoso, o criativo que não imita, o jogo saudável.
Por isso, vou amar colocar minha voz na primeira gravação que faço, de uma música linda, tocada pelo Meu Amor (esse sim, músico de tirar o chapéu...). E vou curtir e me divertir fazendo meu primeiro macarrão com shitake! Sem medo!
Hum...Shitake ou shimeji...Não sei...Qual será o certo?
Ah! Meu macarrãzinho com cogumelos! E pronto!
Fácil, não?

sábado, 2 de julho de 2011

O Ciúme

Uma das maiores atitudes que demonstram falta de gentileza é o ciúme. Para alguns, pode até parecer bonito e um cuidado a mais com o nosso “pezinho quente” (tinha um professor na época do cursinho que se referia assim ao amor de sua vida e acho o máximo). Há ainda outros que admitem com orgulho seu ciúme. Pergunte à mesma pessoa se ela é egoísta, controladora, invejosa...Não, nada disso! Mas ciumentinha ela é, porque é bonitinho...No entanto, quem sente ciúme é, sim, egoísta, controlador e, na maioria das vezes, invejoso. Quer para si o Ser por inteiro. Quer ter Poder. Existe maior falta de gentileza e amor em querer ter alguém para si, para seu uso e deleite exclusivo? Alguém que satisfaça suas vontades e renuncie à sua própria vida em nome de sua majestade, o Mimo? Existe atitude mais IRrAcional que a de querer seguir os passos do ser “amado”, querer controlar sua vida em nome de um sentimento tão sublime como o Amor? Não, Amor não é isso...Amor é calma e confiança...É a certeza da presença a despeito da distância física. É estar ao lado e não no exército inimigo.
Conheço algumas pessoas que considero bastante gentis e afetuosas. Estas pessoas não são ciumentas. Ao contrário. Sentem-se invadindo a vida do outro se, porventura, tomarem alguma atitude que demonstre ciúme. Porque tais atitudes não demonstram Amor...Elas representam uma necessidade de Poder sobre o outro, a qual pode vir de uma insegurança com o que se É de verdade, uma falta de credibilidade nos seus próprios valores. Quem quer ter Poder sobre o outro prova o que e para quem? Em vão, tenta provar a si sua importância...Olhando-se de fora da situação, percebe o quanto é regredido, infantil, imaturo e todos esses adjetivos pra dizer uma mesma coisa: é um crianção! E qual é a atitude de uma criança quando não atinge seu objetivo? Chora, esperneia, fica irritada, passa mal...Atitudes que, definitivamente, estão longe de alcançar um temperamento gentil.
Bem...Eu, que vos escrevo, devo ser, então, uma pessoa extremamente centrada, segura, gentil, para tomar a liberdade de falar assim desse sentimento o qual muitos acham lindo demonstrar...Engano seu! Sou ciumenta sim, e não acho nada bonito...Por isso escrevo...Para me olhar, observar meu interior, pensar na pessoa que desejo ser...E esta não é ciumenta...Ela é uma mulher grandiosa, forte, transcende toda meninice (esta meninice regredida, não a meninice da criança interior – que não deve morrer nunca!) . Ela sabe: hora ou outra, pode acontecer um deslize de seu companheiro e isso está absolutamente fora de seu controle. Mas confia nele, entende que, se estão juntos, algo de especial deve haver neste encontro...Coloca a confiança em si e no outro acima de qualquer atitude e sentimento infantis. Ela quer ser gentil e amorosa. Segura e forte.
De um dia para outro isso é conquistado? Creio que não. Este é um exercício diário. Pra gente grande...

terça-feira, 21 de junho de 2011

Gentilezas "internéticas"

Ah, eu gostei...Gostei muito de ver meu texto publicado no blog de Lima Coelho. Não conhece? Eu também não conhecia, mas estou certa de que é uma pessoa muito gentil...E, por isso, veio parar aqui!

Pra quem quiser reler meu texto sobre o restaurante Broto de Primavera em outro site e, é claro, conhecer mais sobre a obra deste poeta, "sintaxe à vontade" (como já diria Fernando Anitelli):


E, pra quem não sabe, Fernando Anitelli é o vocalista da banda O Teatro Mágico:


Esse mundinho virtual às vezes me encanta...Mesmo! Mas ainda prefiro beijo e abraço...

domingo, 19 de junho de 2011

Teatro da Gentileza

“Amor, deixa que eu faço pra você !”
“Claro que eu quero te ver, vou desmarcar meus compromissos, afinal você é mais importante que tudo em minha vida!”
“Imagine que vou deixar você ir sozinha!”
“Está com frio? Tome minha blusa!”
“O primeiro pedaço é seu, querida...”
“Não, eu vou te encontrar, não precisa se deslocar até aqui, vai se cansar...”
“Eu te amo tanto que sou capaz de passar meu dia inteiro só te admirando...”

Para onde vai esse amor todo depois de um certo tempo de relacionamento? Porque essas gentilezas não permanecem por muito tempo, talvez todo a convivência? Onde fica a linha que divide as gentilezas exageradas da geladeira?

Eu não me casei. Sou solteira, embora seja uma conservadora nesses assuntos...Acredito no amor, acredito que é possível viver com uma mesma pessoa por toda a vida e, ainda assim, ser feliz. Acredito na cumplicidade, no respeito mútuo, no carinho para sempre...Nunca vivi isso...Mas acredito ser possível...Aos meus trinta e três, quase trinta e quatro anos, acredito que ainda viverei uma relação destas. Mas como é difícil! Percebo o quanto existe de teatro nesses comportamentos super afáveis...É como se fosse uma máscara colocada para conquistar a presa...Uma vez atingido o objetivo, a máscara cai e surge a verdade. Surge a ausência, a falta de interesse...O “eu nunca vou te deixar sozinha” transforma-se no “te vira, nega que eu tenho mais o que fazer!”. Penso que a gentileza tem validade até as primeiras situações de desgaste. O “te amarei sempre” quer dizer “te amarei sempre, desde que você seja legal sempre”. Não ouse ter defeitos! Não ouse chorar! Não ouse ter problemas para resolver! O “amor” terminará por aí...A mão amiga virá quando você quer,  mas não precisa. Experimente realmente precisar dessa mão! Ela estará a quilômetros de distância da sua...

Quanto rancor, hein? Não, não...Não quero o rancor pra mim. Continuo acreditando no amor, na amizade, no carinho incondicional entre as pessoas...Mas não posso fechar meus olhos ao que está aí, nesse mundo no qual é pecado ser triste: existe um teatro da gentileza! Mostramos o que temos de melhor e só queremos do outro o ouro...Não me venha mostrar seu latão que eu vou recusar! Não é por aí...

Mostre-me o pior de você...E então, serei capaz de lhe amar...

domingo, 12 de junho de 2011

Depois de um longo tempo, mas ainda dentro do inverno...

Estou aqui novamente!
Tenho uma amiga linda, a May, que me fala pra escrever sempre...Porque tenho muitas coisas dentro de mim (umas lindas, outras nem tanto...) e, quando escrevo, elas me pressionam menos e sinto-me mais calma. Puxa, como ela me conhece! Exemplo típico de gentileza! A rotina dela é fazer o Bem...Incrível como consegue ser tão serena, tão tranquila, tão pura...Altruísta cem por cento do tempo...Mas não falarei dela hoje...A May merece um dia só para ela...
Minha sobrinha Ju me perguntou há pouco se abandonei meu blog...Respondi que tenho vários textos para ele dentro de mim...E já ia acumulando mais um! Hoje é Dia dos Namorados! E a Juju está namorando...Que linda...Lembro até hoje do dia em que ela nasceu...Fui à maternidade logo cedo, para ver o bebê...Ela estava enroladinha numa manta, no colo de minha irmã, pequenininha...Olhei para ela, estava encantada...Parecia minha filha, tamanho amor e orgulho estava sentindo naquele momento! Uma de suas mãozinhas estava para fora do cobertor e eu coloquei meu dedo pra ela pegar...Ela apertou com força, como fazem todos os bebês...Mas aquele apertão, para mim, naquele momento, era um cumprimento de duas pessoas que se amariam muito pro resto da vida...Olhei para aquele rostinho e disse: "seremos muito amigas!". E vocês acreditam em profecias auto realizadoras? Bem, o fato é que nos amamos tanto! E somos tão amigas...Claro que, guardadas as proporções necessárias a uma amizade entre tia e sobrinha...Certamente, ela tem seus segredos e eu tenho os meus...Mas a confiança, o respeito e carinho que temos uma pela outra é algo fora do comum...E, neste Dia dos Namorados, no qual tantas declarações vazias são feitas e esquecidas na manhã seguinte, tenho a honra de dizer: Juju, como eu te amo! Muito e para sempre! Como é gostoso falar EU TE AMO com tanta certeza...
Mas também não ia falar da Juju! Quantas palavras danadinhas querendo sair de mim hoje!
Hoje encontrei Meu Amor...Sim, hoje é domingo e um dia especial...Dia de amar, certo? Nem sempre...Mas fato é que, antes de encontrá-lo, fui comprar seu presente. Ali no Center 3, na Paulista, acontece uma feirinha aos domingos, com muitas coisas bonitinhas e diferentes. Comprei uma camiseta que já estava "namorando" há algum tempo para ele. Mas, por ser domingo, não consegui achar um papel de presente para embrulhar...Andei por alguns lugares, algumas ruas nas imediações da Paulista e nada aberto...Voltei à feirinha e fiquei atenta à todas as barracas. De repente, poderia encontrar alguma que tivesse um papel bonitinho para vender...E achei! Uma moça sentada dentro de uma das barraquinhas arrumava papéis de presente prateados...
- Moça por favor...Você me venderia um papel de presente? Comprei uma camiseta e não havia embrulho onde comprei...E está tudo fechado hoje...
- Vender? Imagine! Eu te dou um papel de presente!
- (...)
- Olha aqui...Pode levar!
- Obrigada! (sorrisos)
Será que ando muito sensível? Este ato merecia mesmo tanta atenção? Ela foi tão gentil...Sem saber e de uma maneira tão simples, me deixou feliz! Pela doação amorosa...Não um "toma aqui!" qualquer...Bonito!
Além disso, algumas pessoas dirigindo me deram passagem na faixa de pedestres hoje...Sim, é assim que se faz, não é nenhuma novidade, isso é obrigação, não gentileza!!! Mas sabemos que, na prática, essas atitudes são raríssimas...Por isso, merecem ser exaltadas e reproduzidas!
Será que era o clima de "amor" do dia???

domingo, 1 de maio de 2011

A Última Estação

Dia desses, vi o filme A Úlitma Estação...Fala de uma parte da vida de Tolstói, perto da morte dele. Nunca li nada de sua obra, vi o filme porque dois amigos indicaram e Meu Amor queria ver. Grata surpresa! Claro que, tanto em filmes como em biografias, as histórias podem sofrer deturpações ou virem com a crítica do diretor ou biógrafo. Mas torço para que, no caso de Tolstói, a história tenha sido o mais fiel possível...Tão bonitinho, tão doce...Abriu mão de status, de dinheiro em nome da igualdade ao povo russo...Passou, no final da vida, a ter uma noção de respeito por todas as formas de vida e tornou-se vegetariano...Um pacifista, buscou a proximidade com a vida simples e o contato com a Natureza e passou a pregar uma religiosidade não dogmática.

Uma belezinha!

Vale a pena saber mais e seguir o exemplo, na medida do possível (sempre!).

Título original: (The Last Station)
Lançamento: 2009 (Alemanha, Inglaterra)
Direção: Michael Hoffman
Atores: Helen Mirren, Christopher Plummer, Paul Giamatti, James McAvoy.
Duração: 112 min
Gênero: Drama

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ser...*

Naquela manhã, abri meus olhos e o primeiro pensamento do dia foi o seguinte: quem sou eu? Como não poderia deixar de ser, um pensamento paradoxalmente simples e complexo desses deveria ser seguido por alguns outros não menos esquisitinhos, tais como: o que estou fazendo aqui? Qual minha função, meu dom, neste planeta? Qual será a herança que deixarei para a Humanidade?

Assim, me levantei...E...

...tive minhas lágrimas (claro, como não derramar nenhuma após constatar a mediocridade de minha existência?) gentilmente beijadas por um pequeno ser que habita minha tenda, um pedacinho da selva, minha tigresa em miniatura...Com seus grandes olhos azuis, me encarou. Sem pedir licença, saltou em meu colo e me consolou com seu ronronar...

...antes de sair de casa, recebi um longo abraço e um beijo carregado de bons desejos da mulher que me ensinou a essência do sentimento fundamental pro encontro com a Felicidade, que é o Amor; a mulher guerreira, forte e frágil; a mulher que me ensinou o sorriso, a humildade, que me carregou nos braços e agora sou eu quem a carrega...

...no caminho para o trabalho, olhei pra cima e, em meio à fumaça , vi o meu regente, brilhando fiel, emanando Luz, Energia e Alegria; a despeito das buzinas, ouvi canções, sinfonias aéreas, partituras indecifráveis, centenas de pequenas vozes, cortejando a alegria de viver; brotando do asfalto, uma pequena flor, cor de maravilha...Haveria cor mais apropriada? Vinha de dentro do chão, abrindo caminho e quebrando barreiras. Colocando muita vida no cinza, que ficou pequeno, tadinho...

...durante aquele dia, vi uma jovem mulher, bela como não poderia deixar de ser a juventude, descobrir O Belo no olhar de outra mulher, uma desconhecida, já não tão bela e nem tão jovem; vi dois cães companheiros nas frequentes esbórnias noturnas se encontrarem numa praça e se saudarem como se não se vissem havia muitos anos! Vi o sorriso sem dentes de um bebê que, por sobre o ombro da mãe, me olhava e via "não sei o que" na ponta do meu nariz...

...ao voltar pra casa, fui recebida por uma garotinha que, sem saber ainda do orgulho, da polidez, do comedimento os quais nos castram tão logo aprendemos a ser gente grande, veio correndo em minha direção, pulou em meus braços e contou detalhes do seu dia agitado: desenhos coloridos, diálogos fantásticos com uma boneca de pano, histórias de príncipes e princesas...que Paz ouvir aquela vozinha, sentir aquele confortável abraço com enormes braços curtos...

Naquela noite, me deitei, fechei meus olhos...Lembrei da mestra Clarice...Adormeci com o derradeiro questionamento: que diabos eu preciso tanto entender? Viver...Simplesmente viver...

Betty Lou**

* Texto escrito há cerca de dois anos, quando meu cotidiano, gentilmente, me mostrou que a Gratidão, a Gentileza, são mesmo como aqueles insetinhos, as joaninhas...
** Meu ID

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Descoberta do Broto

Conheci aquele lugar muito por acaso. Após assistir à apresentação de uma amiga que se formava no curso de ioga, estava procurando um lugar para almoçar. Subi a Rua São Joaquim e vi um comércio bem pequeno, estreito. Na entrada, alguns cartazes divertidos dizendo que ali comia-se bem e a comida era saudável. Entrei. Descobri que os pratos eram vegetarianos e percebi não ser por acaso minha atração por aquele ambiente. Já não comia carne havia um tempo razoável. Vi no cardápio que o prato do dia era paella. Hum! “Paella sem peixinho? Sem franguinho?? Vou experimentar!”. Morta de fome, pedi que me servissem. Li algumas revistas disponíveis no local enquanto esperava. Fui atendida rapidamente e, quando o prato foi colocado sobre minha mesa, ai! Me dei conta de um probleminha básico: o local não aceitava cartões, somente dinheiro, e eu não possuía nem um centavo no bolso. Olhei para o dono do restaurante, um homem com um semblante extremamente sereno, e pedi que me confirmasse se realmente não aceitavam cartões no estabelecimento. Ele sorriu para mim e, sem responder à minha pergunta, disse com uma sinceridade e uma serenidade de acalmar uma capivara no cio: “Fique tranquila! Coma sua comida, se alimente, depois vemos o que pode ser feito. Aproveite a refeição!”. Fiquei chocada! Nesses nossos tempos, quando é que testemunhamos reações desse tipo? Na maioria dos lugares, eu provavelmente seria encarada como uma golpista, receberia olhares desconfiados e continuaria com fome...Mas não naquele lugar...Havia amor ali...Seguindo a recomendação daquele moço sorridente, comi tranquila, sentindo o sabor de cada grãozinho, o aroma de cada tempero...Hum! Que delícia! Prato bonito, gostoso e nutrido de carinho e gentileza...Para mim, esta poderia ser  a definição de banquete...
Mas o prato terminou...E meu problema continuava. Levantei, fui até o balcão e ele ainda sorridente. Na verdade, se estivesse sério, ainda assim sorriria...Seu sorriso vinha dos olhos, de sua sobrancelha, sua postura, da maneira como falava com as pessoas. Definitivamente, uma pessoa gentil! Falei novamente que estava sem dinheiro e ele me indicou um local próximo onde poderia sacar o valor da refeição. Disse a ele que iria correndo providenciar o pagamento e ele, muito traquilamente, me disse: “não precisa correr, não....Vai passeando, contemplando o caminho...”. Sorri. Estava mesmo feliz com aquela situação...Fui até o caixa, com mil pensamentos na mente...Primeiro sobre a confiança desta pessoa, em me servir o alimento, sabendo que eu talvez não pudesse pagar; mais confiança ainda em dizer que eu poderia sair para procurar um lugar e sacar o dinheiro, correndo o risco de eu não voltar...Depois comecei a pensar no trabalho dele, na postura diante da vida, em servir um alimento sem vestígios de crueldade....Nas paredes do restaurante havia algumas mensagens sobre vegetarianismo e respeito aos animais. Fiquei satisfeita em ter encontrado lugar e pessoa tão especiais!
Voltei ao restaurante para, finalmente, pagar meu almoço. Além de todas as vantagens de minha descoberta, percebi que o preço ali era muito justo. Perfeito!
Me desculpei pelo possível transtorno e recebi como resposta a frase que, se eu ainda tinha dúvidas se me tornaria cliente desse lugar, ela se dissipou ali mesmo: “Eu é que te peço desculpas por não ter uma maneira mais prática de receber seu dinheiro...Espero que, ao menos, tenha valido a pena, você tenha gostado da refeição...”.
Desejei muita Prosperidade quando saí...
Claro que não parei mais de ir ao Broto de Primavera, restaurante que fica lá na Rua São Joaquim, no qual trabalha uma família linda e muito amorosa com tudo o que faz! O pai da família, aquele rapaz que me atendeu de maneira tão gentil e carinhosa, é o André, casado com a Pilar, uma mulher igualmente maravilhosa. Sempre que posso, vou visitar o lugar, comer a comidinha deliciosa que eles fazem lá.
Também quer se alimentar com amor? Vai lá, eu recomendo:

www.brotodeprimavera.com.br




Ah! Agora eles já aceitam cartões!!!

Foto: Giuliana Nogueira

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Pessoa na pessoa

Quando pensei neste blog, não imaginei escrever todos os dias. Nem o farei. Tampouco pensei em escrever para milhares de leitores...Na verdade, escrevo para mim. Obviamente, ficarei feliz se souber que existem pessoas apreciando meus escritos...Mas o gostoso mesmo é poder colocar minhas viagens em algum lugar e, desta forma, tentar me esvaziar um pouco...Esvaziar a cabeça para dar espaço a novas ideias...No entanto, acredito que quando nos abrimos a algo novo o Universo acaba trazendo oportunidades ou, no mínimo, apuramos nosso olhar para aquilo que subitamente passou a ser de nosso interesse.
O fato é que hoje de manhã me veio uma cena, enquanto estava no metrô, indo para o trabalho. Eu sequer estava prestando atenção nas pessoas. Aliás, estava bastante satisfeita com o raro silêncio no trem. Lia um livro chamado Conversando com Deus, emprestado pelo Meu Amor há algum tempo. Mas a leitura foi interrompida pela voz de um senhor que havia entrado no metrô na estação anterior. Uma voz forte e grave. Percebi, sem olhar diretamente, que ele era alto e grisalho. O rapaz sentado ao meu lado (e não era assento reservado...) prontamente levantou-se e, sorrindo, cedeu lugar ao senhor. Puxa! Atitude encantadora...Diante de tal gentileza, o senhorzinho começou a comentar, de uma maneira um tanto quanto desconexa, que aquilo era uma atitude...Nossa! Sem explicação! Ele não achava as palavras...Por fim, disse que era uma atitude de “primeiro mundo”. Senti um misto de diversão e decepção...Afinal, será que é mesmo tão difícil acreditar que a bondade está mais próxima do que imaginamos? E, por outro lado, no “primeiro mundo” deve haver gente bem mal educada também...Ele, então, sentou-se no banco recentemente vago. Continuei lendo, distraindo-me vez ou outra pela fala do cidadão, que comentava a respeito dos novos trens da linha Verde, elogiando e perguntando-se se aquilo era mesmo o Brasil...Pessimista, temia, em sua conversa com os amigos imaginários, o ataque de “grafiteiros” aos trens tão novinhos e bonitos.
Após algumas estações, ele resolveu falar com alguém que estivesse presente, de carne o osso, e não com espíritos que o acompanhavam desde sabe-se lá quando e onde...E eu era a pessoa mais próxima dele... “Será que posso te interromper um pouco, a sua leitura?”. Olhei para ele, mas confesso que preferia não ter sido abordada por aquele homem. Ah, mas você prega a gentileza, o amor e respeito ao próximo. Claro! Escrevo e falo para mim também! Quem disse que já não estou contaminada pelo preconceito que paira entre todos nós, pelo medo de ser atacada verbal ou fisicamente por um estranho, pela impaciência que não nos permite criar novos laços? Sim, eu tive medo...Mas ouvi. Ele apontou para o livro em minhas mãos e disse que quem escreve em páginas amareladas como aquelas são pessoas...Pessoas...Ele apontou para a própria cabeça, numa mímica que eu entendi como  inteligência ou sabedoria. “Você leu o Jornal X...hoje?”, ele continuou.  Neste momento, tive vontade de dizer a ele que não gosto do jornal citado e já terminar aquela conversa por ali, mas apenas fiz que não com a cabeça. “Pois bem, havia uma coluna hoje falando de Fernando Pessoa, você conhece? Gosta?”. Ah! Ele conseguiu prender minha atenção! Não, não fale de Fernando Pessoa perto de mim se não quiser que eu me apaixone por você...Ele não disse mais nada. Apenas fez uma expressão de satisfação e continuou em seus devaneios, até a estação Paraíso, onde ambos descemos. Eu atônita; ele, na dele, naquela conversa com a turminha invisível...Esperou que todas as pessoas a sua frente saíssem e entrassem do vagão para depois seguir adiante; deu passagem para mulheres na escada rolante...E eu pensei que o raro e belo moram mesmo onde menos esperamos encontrá-los.
Como disse minha amiga G., a gentileza é como uma joaninha...Precisamos ter olhos atentos para enxergá-la, porque é tão pequenininha! Pode estar em muitos lugares, mas nem nos damos conta de sua existência. Mas ela é tão bela, tão colorida e brilhante que, quando a enxergamos, puxa! Nosso dia muda de tom!










"As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido." - Fernando Pessoa

domingo, 17 de abril de 2011

Por Gentileza!

Já faz algum tempo que venho percebendo uma dinâmica um tanto quanto cruel no cotidiano da cidade de São Paulo...Digo isso porque não sei se o mesmo ocorre em outras cidades, vivo aqui, nunca morei em outro lugar, desde que nasci. Lembro que, num determinado momento de minha vida, quando comecei a "virar mocinha", percebi como as pessoas com quem eu me deparava nos lugares públicos agiam guiadas por uma espécie de competição, de raiva represada. Aquilo era estranho pra mim, pareceu-me que, de um dia para o outro, surgiu um ódio generalizado, a prática da não tolerância. Nesse mundo cada vez mais louco, cada vez mais rápido, mais bruto, notei que as manifestações de gentileza foram tornando-se cada vez mais raras...O que deveria ser o básico para a sobrevivência e boa convivência, passou a ser artigo de luxo. Por isso, quando vejo, por exemplo, uma pessoa dando seu lugar a uma mulher grávida no metrô (independentemente desta pessoa estar ocupando o banco reservado a gestantes - o que, na minha opinião, nem deveria existir, pois o bom senso é que deve guiar a atitude de cada um e todos os lugares deveriam, a priori, ser concedidos a pessoas em condições especiais), chego a ficar emocionada e minha Fé no humano volta a surgir...Por isso o nome "lente da gentileza". Porque creio ser possível observar o mundo com um novo olhar, sim!

Por isso, resolvi colocar aqui neste espaço as histórias de gentileza com as quais me deparo no dia a dia. Para que fiquem registradas, para que eu mesma não esqueça delas, volte aqui quando estiver acreditando na existência apenas da maldade e do egoísmo. Quero poder lembrar que um mundo mais humano e leve é possível.  

Também tenho um carinho especial pela história do profeta Gentileza e não poderia deixar de citá-lo aqui, pois, de alguma maneira, foi esta história também que me inspirou a criar este espaço:




Em dezembro de 1961, na cidade de Niterói/RJ, houve um incêndio no circo Gran Circo Norte-Americano, considerado uma das maiores fatalidades em todo o mundo circense. Neste incêndio, morreram mais de 500 pessoas, a maioria crianças. Seis dias após a tragédia, José Daltrino - o Profeta Gentileza - acordou afirmando ter ouvido "vozes astrais", que o mandavam abandonar o mundo material e se dedicar apenas ao mundo espiritual. O Profeta pegou um de seus caminhões e foi para o local do incêndio. Plantou jardim e horta sobre as cinzas do circo em Niterói, local que um dia foi palco de tantas alegrias, mas também de muita tristeza. Aquela foi sua morada por quatro anos. Neste ambiente, José Datrino incutiu nas pessoas o real sentido das palavras Agradecido e Gentileza. Foi um consolador voluntário, que confortou os familiares das vítimas da tragédia com suas palavras de bondade. Daquele dia em diante, passou a se chamar "José Agradecido", ou simplesmente "Profeta Gentileza".
Após deixar o local, que foi denominado "Paraíso Gentileza", o Profeta começou a sua jornada como personagem andarilho. Durante a década de 1970, percorreu toda a cidade. Era visto em ruas, praças, nas barcas da travessia entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, em trens e ônibus, fazendo sua pregação e levando palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho. Aos que o chamavam de louco, ele respondia:

"Sou maluco para te amar e louco para te salvar".


O texto acima é uma adaptação de rápida pesquisa feita no Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Profeta_Gentileza). Segundo este mesmo texto, há relatos de pessoas que alegam ser o Profeta uma pessoa bastante agressiva e a imagem formada dele ao longo dos anos não corresponde à realidade, segundo os que o conheceram pessoalmente. O fato é: sendo Gentileza um louco agressivo ou não, existe um exemplo de Amor ao próximo que não pode ser negado. Se pensarmos em sua renúncia à vida comum que levava e sua dedicação em pregar o Bem, todo o resto fica pequeno.

Sigamos o exemplo dessa lenda. Vivamos com um pouco mais de gentileza. É mais gostoso!