segunda-feira, 26 de março de 2012

Corrente do Bem

Faz mais ou menos uns dois meses que eles apareceram lá na porta do lugar onde eu trabalho. Juntinhos, enroladinhos, dentro do canteiro em frente ao prédio. O canteiro tem bastante terra e, naqueles dias de chuva, estava um barro só. Sou apaixonada por animais, especialmente cachorros e gatos. Claro, parei para “conversar” com eles...Como é de praxe acontecer comigo quando faço amizade com algum animalzinho, foi amor à primeira vista. Falei com eles, dei carinho e logo tratei de comunicar a todos os meus colegas, os quais eu sei que tem alguma atração por bichos de estimação, sobre os novos “hóspedes”. E assim começou uma estória linda que teve um “final” hoje. Na verdade, é mesmo o começo de uma nova vida para eles.
O Nico e a Nina formam um simpático casal de cachorros vira-latas. Eles são sujos, maltrapilhos, perebentos e apaixonantes! Do início de Fevereiro até hoje, me habituei a chegar ao trabalho, subir o elevador e ter, como primeira atividade do dia, o cuidado dos dois. Comida, água limpa...Virou uma rotina deliciosa!  Daí para levar ao veterinário, providenciar vacinação e cuidar das feridinhas foi rapidinho...
Mas o que gostaria de deixar registrado aqui nem é o fato de ter cuidado deles. Isso, para mim, foi um prazer! O gostoso mesmo foi o que veio de bônus...Consegui mobilizar, por meio de correio eletrônico, rede social e até por um vídeo produzido pelo Meu Amor, dezenas de pessoas amorosas e generosas! Desde gente que divulgou a estória deles até o adotante, foi uma delícia poder ter um novo contato com pessoas para quem eu tinha o costume de apenas cumprimentar formalmente. Conheci a estória de muitas delas, estórias de amor aos seus “filhos”...Conheci pessoas desapegadas, doando dinheiro para ajudar nos cuidados dos dois, usando um pedacinho do seu tempo precioso de intervalo para descanso para me ajudar a cuidar da orelha do Nico, que estava bem ferida...Pessoas que passaram a sorrir mais para mim, querendo saber das novidades sobre os cachorrinhos...Gente grata por saber que existia uma pessoa realmente preocupada com o futuro daqueles bichinhos. Houve até o caso da ascensorista que, por algum motivo desconhecido por mim, nunca respondia quando eu lhe desejava “bom dia” e, como por milagre, passou a sorrir e perguntar sobre os cachorros, falando que era bom eles estarem sendo cuidados, pois sua vida era tão preciosa quanto à nossa!
E foram tantos divulgando o vídeo que fizemos para a adoção dos dois que, um dia saindo do prédio, fui abordada por uma mulher a quem nunca tinha visto antes, dizendo ter adorado o “meu vídeo”.
Para mim, toda essa mobilização foi uma grata surpresa!
Estou feliz porque eles encontraram um lar amoroso! Estou feliz porque eles foram anjos de quatro patas, mobilizando e unindo tantas pessoas, sem as quais esse final feliz não seria possível! Estou feliz por me dar conta de que estou rodeada de gente generosa...
Mas...Devo confessar: dá um apertinho no peito quando penso que aquelas patas cheias barro não vão mais sujar minha roupa limpa e não sentirei mais aqueles focinhos gelados ou aquelas lambidas de exagerada gratidão...

terça-feira, 6 de março de 2012

Gentileza de Surpresa

Hoje fui surpreendida com uma atitude muito gentil de um colega do meu trabalho.
Costumamos conversar sobre cinema e outro dia comentei o quanto eu gosto de O Pequeno Príncipe. Ele, então, me trouxe um DVD emprestado de um filme que comentei ainda não ter assistido (A Felicidade Não Se Compra) e me deu o outro de presente! Ganhei o DVD d'O Pequeno Príncipe!
A surpresa se deu por não ser alguém com quem eu tenha um contato diário ou uma amizade muito grande. Encarei este presente como símbolo de bondade gratuita e desprendimento, além de revelar uma atenção ao outro que não é comum. De fato, é alguém que está sempre demonstrando atitudes de gentileza. Poucos homens ainda têm o cuidado de, por exemplo, dar passagem e abrir portas para mulheres (salvo alguns pouquíssimos amigos e o Meu Amor, claro). Posso até parecer antiquada e as feministas que me desculpem, mas eu adoro!


Foi isso. Gostei! Pequena atitude cativante.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Muito gente...

Muita gente nesse mundo...Em São Paulo, então! Não fomos feitos para viver nessa aglomeração. Esse viver grudadinho no outro inspira a ira na maioria das pessoas. Já vi cidadãos em discussões homéricas porque alguém encostou em seu braço no metrô lotado. A discussão foi por causa daquela encostadinha? Claro que não. Foram várias encostadinhas acumuladas ao longo da semana...
Contaminadas por este clima tenso, qual a reação das pessoas quando alguém lhes oferece o lugar para sentar no ônibus ou no metrô? Mulheres ficam bravas porque interpretam que estão gordinhas e parecem grávidas ou estão aparentando estar mais velhas. Homens, creio sofrerem menos com isso...Mas às vezes a questão da idade também incomoda.
Uma das cenas mais bonitinhas das quais me recordo é a de um rapaz pouco mais novo que eu (na ocasião, deveria ter uns trinta anos) ceder seu lugar para mim no metrô. Eu não aparentava ser velha nem estava acima do peso...Apenas carregava livros nas mãos e uma bolsa no ombro direito. E ele, muito simpático, insistiu para que eu sentasse. Achei bonito!
Hoje estava com uma colega e pegamos juntas o metrô, duas vezes. Nas duas, cedi meu lugar para ela. Na segunda, ela ficou levemente brava. “Lu, é a segunda vez que você me oferece o lugar...”. Acalmei-a, falando para que ela ficasse tranquila, porque eu costumava fazer isso com todas as pessoas...Comentei como algumas pessoas enxergam nisso uma atitude meio masculina de minha parte. E ela então respondeu: “Não, isso é apenas gentileza...”. Apenas gentileza...Simples. Tratar o outro como gostaria de ser tratado. Sorrir. Auxiliar. Utilizar “palavras mágicas”. Difícil?
Enquanto pensava nesse texto, lembrei de uma ocasião recente na qual estava em uma fila enorme de um restaurante. Obviamente, quem aguardava ali estava faminto. Gente faminta não costuma ser gentil...Novamente muitas pessoas. Mas havia algo diferente no ar. Algo como um vírus que se espalha, um vírus do bem. Alguém sorri para um estranho...O estranho sorri para a atendente...A atendente sorri para seu colega...Estava um calor danado, mas pareceu até que o clima ficou mais ameno. No meio de tanta gente, um rapaz dá lugar para um homem que levava a mãe numa cadeira de rodas. Não sei...Isso me emociona. Eu gosto! Porque parece ser o natural a se fazer. Mas nem sempre acontece assim.
Viver com tanta gente por perto é inevitável. Por que não fazer disso uma experiência enriquecedora e não opressiva? A observação tem me mostrado que é possível.