terça-feira, 27 de setembro de 2011

E o palhaço o que é?

Trabalho no Brás. Caso não conheçam, é um bairro particularmente estranho. Lá encontra-se de tudo, desde o vendedor de feijão de corda a granel na saída do trem até celulares de última geração num esquema “na minha mão só paga cem conto”. Também é um lugar no qual a sua pressa é sempre mais importante que a pressa do seu próximo. Não sei para aonde e por qual razão as pessoas correm tanto. Bom, elas devem ter seus motivos, alguns fundamentais como, por exemplo, não perder o último capítulo da novela. Mas a razão da correria de cada um ignora que as palavras “com licença” e “por favor” devam ser usadas de vez em quando. Tratores humanos é no que se transformam os frequentadores do Brás. Especialmente perto das seis da tarde, ali do ladinho da estação de trem. Tenha medo!
Mas outro dia presenciei uma cena inusitada. Melhor que isso: um clima inusitado. Sim, porque a cena, de certa forma, era algo a se esperar mesmo (lembrem-se: coisas estranhas acontecem por lá): um homem muito magro, travestido toscamente de mulher, de saia curtinha e peruca rosa. Carregava um aparelho de som. Chamava o povo que passava para conhecer seu trabalho de cantor, compositor, coreógrafo e muito mais! Ao fundo, sua música tocava...Era algo parecido com forró, mas talvez o saudoso Lua lhe desse outra classificação. E ele usava um microfone. O fato é que ele estava tão animado, cantando, dançando e rebolando, dizendo ser "Fulano de Tal, aquecendo seu coração" que seria impossível passar por ele sem dar ao menos um sorriso. E assim foi: aquela figura exótica conseguiu, em pleno caos das dezoito horas no Brás, arrancar sorrisos e até algumas gargalhadas do povo cansado do trabalho.
A riqueza abstrata desta cena é mais difícil de descrever (justamente por ser abstrata)...O sorriso coletivo transformou as pessoas e as ruas. Era como se as grandes asas de um arcanjo pousassem sobre todos, tornando mais leve o fardo que cada um carregava. A luz do ambiente até pareceu ter mudado e se tornado mais clara. Não havia mais empurra-empurra, palavrões ou expressões de impaciência...O clima tornou-se leve, tão somente porque a maioria estava sorrindo.
Aquele “artista”, sem diploma e com escassos recursos, mudou o dia de muita gente. Mudou o meu. Fez despertar em cada um uma espécie de luz, de mágica, de poder escondido. Se houve  transformação de algumas pessoas em alguns poucos metros de rua, o que não aconteceria no mundo inteiro se decidíssemos todos, ao mesmo tempo, sorrir para a vida?
Corações quentinhos!!!

Um comentário:

  1. compreendo-te. pensei naquela risada interna que as vezes escapa no rosto de um passante solitário...

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